quarta-feira, 18 de julho de 2012

Aspectos neurofisiológicos relacionados com a experiência de "Flow"

O estado de flow pode ser considerado uma experiência de completa absorção pela realidade, onde todos os objetivos são atingidos de forma plena, com equilíbrio mental e pouca ou nenhuma dificuldade. A percepção temporal é alterada e a interação com as demandas do ambiente é extremamente facilitada.  Geralmente tal experiência é inesquecível e popularmente inexplicável. A dificuldade de se conseguir adentrar nesse estado voluntariamente torna qualquer abordagem cientifica bem limitada.

Ainda assim, a prof. Debbie Crews, da Universidade do Arizona, conseguiu reproduzir em seu laboratório  uma situação na qual controlou experimentalmente níveis de pressão psicológica e assim, pode observar que alguns atletas tinham mais facilidade de entrar no "zone"e abstrair dos estímulos que foram capazes de induzir nervosismo e ansiedade nos demais participantes (Crews, 2001). Na referida pesquisa, os atletas tiveram alguns sinais psicofisiológicos monitorados (HRV, EMG, Etc.), bem como a atividade cerebral através do EEG. Seus dados revelaram diferenças neurofisiológicas entre os dois grupos grupos de atletas (figura 1). Nos resultados, dois padrões de atividade cerebral específicos foram identificados. Na condição de estresse elevado, pode-se observar uma assimetria na excitabilidade neuronal entre os atletas que conseguiram desempenhar sua tarefa com sucesso (direita), daqueles que não conseguiram focar nos aspectos relevantes da tarefa frente aos estímulos estressores (esquerda). Houve também uma predominância da atividade simpática (taquicardia, tremores e sudorese) nos atletas que se sentiram pressionados/nervosos. O experimento foi divulgado pela Discovery alguns anos atrás.



Figura 1: Diferenças nos padrões de atividade cortical identificado em atletas suscetíveis ao nervosismo (esquerda) e atletas capazes de um amior envolvimento com as demandas do esporte (direita). Imagem adaptada do trabalho de Burzig (2004).

De acordo com o estudo de Burzig (2004), a assimetria encontrada por Crews (2001) interfere diretamente no desempenho esportivo pelo fato do baixo envolvimento do hemisfério direito, que teria especialidades importantes para a prática do esporte, como a intuição, a consciência temporal; atenção espacial e a consciência corporal, entre outras (Springer e Deutsch, 1989).  

Diante desses dados e outras fontes, algumas aboradagens de treinamento cerebral, como o neurofeedback, pretendem ampliar a capacidade de controle cerebral e facilitar um atividade simétrica entre os dois hemisférios cerebrais (Evans e Abarbanel, 1999; Gruzelier e Egner, 2004).

Apesar desses achados iniciais, a temática do flow é muito complexa, sendo necessários outros estudos que possam nos oferecer bases mais consistentes sobre a neurofisiologia do Zone.

 
Referências:

A Burzik, On the neurophysiology of flow thought-provoking studies from sport and music psychology, neurofeedback and trance research, Second European Conference on Positive Psychology, Verbania Pallanza, Italy, 5-8 July 2004.
Crews, D. (2001). Putting Under Stress, in: Golf Magazine, 3, pp. 94-96.
Evans, J. & Abarbanel, A. (1999). Introduction to Quantitative EEG and Neurofeedback, London: Academic Press.
Gruzelier, J. & Egner, T. (2004). Physiological self-regulation: Biofeedback and neurofeedback, in: Aaron Williamon (Ed.), Musical Excellence. Strategies and Techniques to Enhance Performance, Oxford.
Springer, S. & Deutsch, G. (1989). Left Brain, Right Brain, New York: W.H. Freeman and Company.

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